O Olho Mágico de Sylvain Chomet
O espetáculo do circo muitas vezes esconde a melancolia que há por baixo desta lona mágica. Sylvain Chomet busca revelar o que acontece neste picadeiro da vida urbana. Através da animação “O Mágico”, vemos que truques de cartola não encantam mais este mundo moderno.
Coelhos brancos não fascinam tanto quanto as coelhinhas da “Playboy”, cartas de baralho não seduzem se você não souber jogar Poker e moedas que surgem detrás da orelha não têm mais valor algum no mercado financeiro. O itinerante circo da fantasia abandonou ventríloquos, palhaços e acrobatas. Atualmente, quem dá as cartas no mundo encantando é a publicidade e os desejos que fascinam em luxuosas vitrines.
“O Mágico” conta exibe a situação de contraste que existe entre estes diferentes mundos de imaginação. Por meio de uma relação paternal que entra em conflito em meio à crescente modernização da vida urbana, percebemos que, gradativamente, o foco de nossos desejos muda de eixo. Enquanto o velho Ilusionista busca espaço para se apresentar em auditórios e teatros, a menina borralheira, com que vive, pouco a pouco, é aprisionada num invólucro de sonhos e ilusão, algo como uma cinderela consumista, deslocada da realidade.
A animação trás na mangas um traço europeu suave e uma narrativa que dispensa diálogos, graças a forte carga simbólica das imagens, além de personagens expressivos, semelhantes aos quadrinhos do mestre Will Eisner.
Sylvain Chomet consegue nos iludir que a vida pode até ser uma alegre fantasia, e mesmo nos mais tristes momentos, ainda existe cinema e poesia.
Sávio Oliveira - Cineclube Super8